quarta-feira

Felicidade


Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade. (Mario Quintana)


segunda-feira

Segurança


[...]Olhar para as nossas próprias decisões nos possibilita ver que na maioria das vezes escolhemos a segurança-insegura como refúgio e auto-engano; embora, entre nós, tal insegurança se disfarce sob o manto da “segurança de si”. Assim, a maior insegurança de um homem é sempre confessada como sua segurança! Desse modo o Evangelho tira o que se esconde dentro de nossa casa, e o expõe gritando seu nome da varanda da alma; e diz: “O que você chama de minha Segurança ou de meu Sucesso, de fato é a sua mais profunda insegurança; pois um homem seguro, em Deus, não conhece segurança e nem sucesso, mas apenas alegria confiante; e isto no dia bom e também no dia mal.”

quarta-feira

Profundidade



Não há nada como a profundidade para nos tornar insatisfeitos com as coisas superficiais

"A superficialidade é a maldição dos nossos dias. A dou­trina da satisfação instantânea é um dos principais problemas espirituais. A necessidade desesperadora hoje em dia não é de um número maior de pessoas inte­ligentes, ou bem dotadas, mas sim de pessoas profun­das". Richard Foster.
Coisas profundas são intrigantes. Selvas pro­fundas. Águas profundas. Cavernas profun­das, desfiladeiros profundos. Pensamentos profun­dos e conversas profundas.
Não há nada como a profundidade para nos tor­nar insatisfeitos com as coisas superficiais, rasas. Uma vez que tenhamos cavado abaixo da superfí­cie, e experimentado as maravilhas e os mistérios que há na profundidade, percebemos o valor de in­vestirmos o tempo necessário e enfrentarmos todo obstáculo para alcançarmos essas profundezas.
Isso é particularmente verdadeiro no reino espi­ritual. Deus nos convida a irmos mais a fundo, e não ficarmos satisfeitos com os aspectos superficiais.
Lemos nas Escrituras que o Espírito de Deus "a todas as cousas perscruta, até mesmo as profunde­zas de Deus" (1 Co 2:10). A profundidade de sua sabedoria e de seus caminhos é definida como "insondável" e "inescrutável", de acordo com Roma­nos 11:33:
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!
Certamente nosso Senhor opera em domínios muito além da nossa capacidade de compreender, mas ele espera que nós exploremos e experimente­mos aquilo que está além do que é óbvio. Algumas das melhores verdades de Deus, como tesouros inestimáveis, acham-se escondidas em profundida­des tais, que muitas pessoas nunca dão o tempo necessário para procurá-las e encontrá-las. Que per­da para nós! Com paciência e graciosamente ele está à espera para revelar as percepções e as dimen­sões da verdade àqueles que se dispõem ao menos a sondar, a examinar, a meditar.
Tal procura não é simplesmente uma busca inte­lectual. Os caminhos de Deus não são descobertos através dos métodos de pesquisa normais e humanísticos.
Mesmo sendo tão importantes e intrigantes co­mo as coisas profundas de Deus devem ser, elas resistem totalmente a qualquer tentativa de ser des­cobertas pelos meios naturais de nossas mentes. Ele reserva essas coisas para aqueles cujos cora­ções são totalmente dele... para aqueles que reser­vam tempo suficiente para buscar sua face. Somente desse modo pode haver intimidade com o Todo-Poderoso.
Pare e pense a respeito disso antes de prosse­guir. Faça a si mesmo uma pergunta difícil. Seja honesto em sua resposta: "Eu, estou entre as pesso­as profundas?"
É conhecê-lo...
progressivamente ... com maior profundidade
é conhecer... com maior intimidade
percebendo...
reconhecendo...
entendendo...
sendo continuamente transformado...
Haverá neste mundo algo mais importante para um filho de Deus? Acho que não. Contudo, estra­nhamente, bem poucos procuram alcançar esta tão importante prioridade.

(Intimidade com o todo poderoso. Charles R. Swindoll)

terça-feira

Ninho



"Aí você começa a descobrir que você não precisa de nada além de um ninho, e que esse ninho está em Deus".

segunda-feira

Tapeceiro


O Tapeceiro

Tapeceiro, grande artista,
Vai fazendo seu trabalho
Incansável, paciente no seu tear
Tapeceiro, não se engana
Sabe o fim desde o começo,
Traça voltas, mil desvios sem perder o fio
Minha vida é obra de tapeçaria,
É tecida de cores alegres e vivas,
Que fazem contraste no meio das cores
Nubladas e tristes
Se você olha do avesso,
Nem imagina o desfecho
No fim das contas, tudo se explica,
Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem
Quando se vê pelo lado certo,
Muda-se logo a expressão do rosto,
Obra de arte pra Honra e Glória do Tapeceiro
Quando se vê pelo lado certo,
Todas as cores da minha vida
Dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro

sábado

A vida em pleno

A Vida em Pleno - Sêneca in cartas a Lucílio


Diariamente criticamos o destino: "Porque foi este homem arrebatado a meio da carreira? E aquele, porque não morre, em vez de prolongar uma velhice tão penosa para ele como para os outros?" Diz-me cá, por favor: o que achas tu mais justo, seres tu a obedecer à natureza ou a natureza a ti? Que diferença faz sair mais ou menos depressa de um sítio de onde temos mesmo de sair? Não nos devemos preocupar em viver muito, mas sim em viver plenamente; viver muito depende do destino, viver plenamente, da nossa própria alma. Uma vida plena é longa quanto basta; e será plena se a alma se apropria do bem que lhe é próprio e se apenas a si reconhece poder sobre si mesma. Que interessa os oitenta anos daquele homem passados na inacção? Ele não viveu, demorou-se nesta vida; não morreu tarde, levou foi muito tempo a morrer! "Viveu oitenta anos!". O que importa é ver a partir de que data ele começou a morrer. "Mas aquele outro morreu na força da vida". É certo, mas cumpriu os deveres de um bom cidadão, de um bom amigo, de um bom filho, sem descurar o mínimo pormenor; embora o seu tempo de vida ficasse incompleto, a sua vida atingiu a plenitude.
"Viveu oitenta anos". Não, existiu durante oitenta anos, a menos que digas que ele viveu no mesmo sentido em que falas na vida das árvores. Peço-te insistentemente, Lucílio: façamos com que a nossa vida, à semelhança dos materiais preciosos, valha pouco pelo espaço que ocupa, e muito pelo peso que tem. Avaliemo-la pelos nossos actos, não pelo tempo que dura. Queres saber qual a diferença entre um homem enérgico, que despreza a fortuna, cumpre todos os deveres inerentes à vida humana e assim se alça ao seu supremo bem, e um outro por quem simplesmente passam numerosos anos? O primeiro continua a existir depois da morte, o outro já estava morto antes de morrer! Louvemos, portanto, e incluamos entre os afortunados o homem que soube usar com proveito o tempo, mesmo exíguo, que viveu. Contemplou a verdadeira luz; não foi um como tantos outros; não só viveu, como o fez com vigor.

E se eu quiser falar com Deus

por Luiz Eduardo Prates da Silva

Texto para um tempo de fundamentalismos, de sectarismos,de intolerâncias, de condenações...
Engana-se quem pensa que Deus está guardado nas sólidas paredes das doutrinas eclesiásticas. Ele espia nas frestas dos dogmas e seu olhar ilumina a vida....

Engana-se quem pensa que Deus está nas certezas inabaláveis capazes de ter sempre uma resposta pronta. Ele está na dúvida que provoca o pensar e desperta o agir mesmo incerto...

Engana-se quem pensa que Deus está nas convicções que provocam a intolerância. Ele está no respeito ao diferente e no compungir do coração que impele ao gesto de amor...

Engana-se quem pensa que Deus é uma peça da burocracia de qualquer culto e está bitolado pela compreensão das autoridades. Ele se ri do lado de fora das reuniões solenes e brinca com as crianças que não puderam entrar para não atrapalhar a cerimônia...

Engana-se quem pensa que Deus está nos mais corretos preceitos da moral e condena qualquer que deles se desviar. Ele está no acolhimento de todos e no amor apesar de...

Engana-se quem pensa que Deus compactua com os que pagam para serem reconhecidos como religiosos e no coração tem uma pedra. Ele está nos que não têm nada para dar e esperam por Ele como última tábua de salvação...

Engana-se quem pensa que Deus participa dos conselhos dos notáveis, que decretam a morte calculada com cifras tidas por estéreis. Ele está nos famintos de pão e de sentido e é encontrado nos lugares menos esperados...
Ele não está no monólito frio, mas na onda incessante que sempre chega...

Ele não está no furacão insensível, mas na brisa que refresca...

Ele não está na secura do deserto, mas no cacto que o resiste à aridez...

Ele não está na barragem que desvia o rio, mas no fluir alegre da água...

Ele não está no abismo que interrompe a marcha, mas na ponte que convida à outra margem...

Ele não está na escuridão que infunde medo, mas na claridade que prenuncia mais uma aurora...

Ele não está no espinho que fere, mas na flor que alimenta o pássaro de néctar e os olhos de beleza...

Ele não está na repreensão que destrói, mas na palavra amiga que orienta...

Ele não está na cara amarrada que condena, mas no sorriso afável que acolhe...

Ele não está na pose arrogante que separa, mas na simplicidade que aproxima...

Ele não está na ironia sarcástica que rejeita, mas na compreensão solidária que dialoga...

Ele não está no desprezo que anula, mas no incentivo que sustenta...

Ele não está no orgulho que desdenha, mas na humildade que cativa...

Ele não está na correção que faz colocar-se ‘no seu lugar’, mas na advertência respeitosa que constrói parceria...

Em fim, Ele não está no Todo Poderoso inatingível, mas no homem Jesus, o Cristo ressuscitado!

E no entanto, Ele pode ser doutrina e monólito e repreensão ou estar em tudo o de que se disse que Ele não está, ou ser tudo o que se disse que não é, porém sem ferir ou magoar ninguém...

A Ele, pois, cabe o Poder a Honra e a Glória, para todo o sempre! E a nós, segui-lo...

http://www.cristianismocriativo.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=223&Itemid=70

quinta-feira

Dias de vento


Gosto dos dias de vento. Sempre que o ouço a abanar as minhas janelas, não resisto a espreitar lá para fora para ver tudo o que ele mexe. Sabes, quando temos o coração acordado, até o vento pode conversar connosco. E dizer-nos muitas coisas importantes. A mim, que em frente à janela do meu quarto tenho umas quantas árvores, o vento fala-me sempre da importância das raízes. Sim, gosto dos dias de vento, porque me lembram a importância de ter raízes. Às vezes, parece que vivemos sem chegar nunca a lançar raízes profundas. Ter raiz significa encontrar um sentido verdadeiramente válido para viver, um sentido daqueles que as primeiras invernias não derrubam, perene, mais forte que a morte, como o Amor. Um dia, Jesus disse tudo isto contando a parábola de duas casas.
Era uma vez um homem insensato, que construiu a sua casa sobre a areia: veio a chuva, o vento e a tempestade e a casa ruiu. E havia um outro homem, este sábio, que construiu a sua casa sobre a rocha: veio a chuva, o vento e a tempestade, mas a casa permaneceu. A casa sobre a rocha, como as árvores com raiz, como as vidas com sentido.
E lá fora, o vento continua a segredar-me tudo isto enquanto embala e empurra as árvores do jardim: vão-se as folhas, caem alguns frutos já tardios, partem-se alguns galhos mais frágeis, mas a árvore permanece, porque está enraizada. E assim o vento até a vai limpando. E o vento, assim, até vai espalhando sementes com as suas invisíveis mãos.
Estás a ver? Quando há uma raiz profunda, o vento forte até se torna para as árvores instrumento de purificação e fecundidade. Temos que lançar raízes, assumir motivos válidos para viver e enfrentar todos os ventos, olhos nos olhos. E no subsolo do nosso coração, temos que aprender dia após dia, que para os nossos corações enraizados não há problemas. Nunca há problemas, apenas desafios. Sim, transformar os problemas a chorar em desafios a vencer, esse é o segredo dos corações bem enraizados, para domar todos os ventos. Para isto, a aposta primeira não se faz nas folhas, nos frutos ou nos ramos débeis do nosso ser; tudo começa a jogar-se nas raízes, no sentido, nos critérios.
Olha, o vento a dançar por entre as árvores do jardim está ainda a dizer-me outra coisa: até na morte, até na morte a raiz é sinal de uma grande dignidade. Sabes: é que uma árvore morre sempre de pé…

quarta-feira

Conversão


"Converter-se significa que houve uma resposta humana para o toque divino da Graça.O convertido é quem diz sim ao convite de Deus.Daí se inicia um relacionamento amoroso semelhante aos dos pais e filhos.Conversão é aceitar que a vontade humana se alinhe à vontade de Deus,sempre com o propósito relacional de intimidade.Depois que nossa vontade estiver sujeita à vontade dele,começa uma caminhada ou um processo;Deus nos ensinará como transformar nossa história. Colocado de uma maneira bem coloquial, seria como se Deus afirmasse: "Bem, agora que você está comigo, deixe que eu lhe ensine como ser feliz." A diferença fundamental entre o cristão e o não cristão é que um se submeteu à vontade de Deus e agora dispõe da sabedoria divina para viabilizar a vida.Entretanto, alguns podem ser cristãos, terem essa sabedoria à sua disposição e não saberem como utilizá-la. Seria como uma pessoa que passa sua existência sobre uma jazida de ouro, mas ignorante de sua realidade, nunca garimpa o tesouro que é seu...
Não há verdade transformadora que não venha de dentro para fora, gerando o encontro entre o ser que ainda somos e o ser que em Cristo somos chamados para ser...""E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" .

terça-feira

Segurança


A verdadeira segurança é fruto da paz de se saber amado, e, portanto, da satisfação de se ser quem é. Isto porque essa certeza de ser amado vem de uma dimensão do ser que existe de modo muito mais anterior do que tudo aquilo que, cegamente, chamamos de “vida”. Segurança, portanto, em sua qualidade mais essencial, é o fruto da confiança no cuidado e na bondade de Deus para conosco; mesmo quando dói. Sim, porque, em tal caso, a certeza do amor de Deus por nós imediatamente nos remete para outra certeza, e que o faz dizer: “Dói; eu não entendo esse caminho; mas sei que quem o conduz, sempre faz tudo visando o bem de meu ser que é; e que há de permanecer para sempre!” Portanto, sem certeza do amor que é; do amor de Deus — nenhuma confiança jamais nascerá de nós para Deus. É porque Ele nos ama, e age em nosso favor, que respondemos a Ele, quando respondemos, em amor e confiança também. Ora, nossa resposta em amor ao amor de Deus se manifesta como obediência natural ao único mandamento, que é amor ao próximo. Assim, nossa confiança no amor de Deus se desenvolve na pratica do amor ao próximo, visto que este passa a ser o meu altar de culto a Deus.

Crescidos em amor ao próximo, em razão do amor de Deus em nós, experimentamos confiança crescente; e ela, a confiança, nos faz habitar aquele lugar que alguns homens, desde há milênios, aprenderam poeticamente a chamar de “refugio bem presente na tribulação”; ou ainda de “sombra do Altíssimo”; ou mesmo de “minha fortaleza”; ou de “minha luz e minha salvação”. Segurança, assim, não é uma condição de vida na terra, mensurável, e fruto de contas e de investimentos que nos dêem alguma “previsibilidade”;...

O ser seguro apenas é; pois ele sabe que é Sabido em Deus. Por esta razão ele descansa. E é desse descanso confiante e aninhado em Deus que vem a inabalabilidade desse ser humano que anda em seu caminho de fé. O ser seguro sabe que o que é dele, está guardado. Sabe que o que é seu, ninguém tira. Sabe que tudo segue a lei da vida quando se anda em confiança e amor. Sabe que seu sustento jamais faltará. Sabe que nada vale mais do que buscar o reino de Deus antes de tudo....

[...]Olhar para as nossas próprias decisões nos possibilita ver que na maioria das vezes escolhemos a segurança-insegura como refúgio e auto-engano; embora, entre nós, tal insegurança se disfarce sob o manto da “segurança de si”. Assim, a maior insegurança de um homem é sempre confessada como sua segurança! Desse modo o Evangelho tira o que se esconde dentro de nossa casa, e o expõe gritando seu nome da varanda da alma; e diz: “O que você chama de minha Segurança ou de meu Sucesso, de fato é a sua mais profunda insegurança...

Um sonho de simplicidade


Então, de repente, no meio dessa desarrumação feroz da vida urbana, dá na gente um sonho de
simplicidade. Será um sonho vão?
Detenho-me um instante, entre duas providências a tomar, para me fazer essa pergunta. Por que fumar tantos cigarros? Eles não me dão prazer algum; apenas me fazem falta. São uma necessidade que inventei. Por que beber uísque, por que procurar a voz de mulher na penumbra ou os amigos no bar para dizer coisas vãs, brilhar um pouco, saber intrigas?
Uma vez, entrando numa loja para comprar uma gravata, tive de repente um ataque de pudor, me surpreendendo assim, a escolher um pano colorido para amarrar no pescoço.
A vida bem poderia ser mais simples. Precisamos de uma casa, comida, uma simples mulher, que
mais? Que se possa andar limpo e não ter fome, nem sede, nem frio. Para que beber tanta coisa gelada?
Antes eu tomava a água fresca da talha, e a água era boa. [...]
Que restaurante ou boate me deu o prazer que tive na choupana daquele velho caboclo do Acre? A gente tinha ido pescar no rio, de noite. Puxamos a rede, afundando os pés na lama, na noite escura, e isso era bom. Quando ficamos bem cansados, meio molhados, com frio, subimos a barranca, no meio do mato, e chegamos à choça de um velho seringueiro. Ele acendeu um fogo, esquentamos um pouco junto do fogo, depois me deitei numa grande rede branca -foi um carinho ao longo de todos os músculos cansados. E então ele me deu um pedaço de peixe moqueado e meia caneca de cachaça.
Que prazer em comer aquele peixe, que calor bom em tomar aquela cachaça e ficar algum tempo a conversar, entre grilos e vozes distantes de animais noturnos. Seria possível deixar essa eterna inquietação das madrugadas urbanas, inaugurar de repente uma vida de acordar bem cedo? [...]
Mas para instaurar uma vida mais simples e sábia, então seria preciso ganhar a vida de outro jeito, não assim, nesse negócio de pequenas pilhas de palavras, esse ofício absurdo e vão de dizer coisas, dizer coisas...
Seria preciso fazer algo de sólido e de singelo; tirar areia do rio, cortar lenha, lavrar a terra, algo de útil e concreto, que me fatigasse o corpo, mas deixasse a alma sossegada e limpa.
Todo mundo, com certeza, tem de repente um sonho assim. É apenas um instante. O telefone toca.
Um momento! Tiramos um lápis do bolso para tomar nota de um nome, um número... Para que tomar nota?
Não precisamos tomar nota de nada, precisamos apenas viver- sem nome, nem número, fortes, doces, distraídos, bons, como os bois, as mangueiras e o ribeirão.
(Rubem Braga. Duzentas crônicas escolhidas.)

domingo

Graça


"A graça proclama a assombrosa verdade de que tudo é de presente. Tudo de bom é nosso não por direito, mas meramente pela liberalidade de um Deus gracioso. Embora haja muito que podemos ter feito por merecer - nosso diploma e nosso salário, nossa casa... - tudo é possível apenas porque nos foi dado tanto: a própria vida, olhos para ver e mãos para tocar, mente para formar idéias e coração para bater com amor.
A nós foram-nos dados Deus em nossa alma e Cristo na nossa carne. Temos o poder de crer quando outros negam; de ter esperança quando outros desesperam; de amar quando outros ferem. Isso e muito mais é pura e simplesmente de presente; não é recompensa a nossa fidelidade, a nossa disposição generosa, a nossa vida heróica de oração. Até mesmo nossa fidelidade é um presente. "Se nos voltamos para Deus", disse Agostinho, "até mesmo isso é um presente de Deus"."
Brennan Manning

sábado

Integridade de coração


Render-te-ei graças com integridade de coração...".
(Salmo 119.7)

Sabemos que é difícil admitir, porém inúmeras vezes nosso coração se dá pela metade. Quando isto acontece, falta-nos a integridade. Ser íntegro significa ser pleno, completo, totalizado, sem parcialidade, sem pedaço. Por esta razão, a integridade, em sua própria natureza, não pode ser dividida ou mutilada. É tudo ou nada.
As palavras do salmista estão repletas de intensidade. É possível perceber que existe um coração que pulsa encantado por Deus. Há convicção, vontade, compromisso, gana, desejo e alegria. Mais que palavras, estão presentes sentimentos e posturas que embalam a gratidão.
Em tempos marcados pelos relacionamentos superficiais e artificiais, a Palavra de Deus é um convite à busca da plenitude. Até quando, se isto é possível, amaremos pela metade? Como permanecer se não há entrega? Por que investir se não acreditamos mais? Nada vale a pena se não for por amor. E o Senhor sabe disso...
Juntar os pedaços talvez seja um bom começo para que o coração se faça pleno. Encarar as perdas, as dores, os medos e as ausências podem indicar os primeiros passos de volta "ao primeiro amor" (Ap 2.4). Para tal, será necessário levantar os olhos, abrir os ouvidos e despertar a alma para encontrar a Deus nestes dias.
A integridade é um processo, assim como o enchimento de um copo com água. Gradativamente, permitimos os encontros, as falas, os toques, as confissões e as intimidades. Mais que uma condição acabada, a integridade é uma procura constante e, às vezes, pouco prazerosa. Neste sentido, a plenitude não é o fim, mas o modo pelo qual nos colocamos na direção de Deus, dos outros e de nós mesmos.
Por estas razões é que Ele espera de nós a entrega; simplesmente para que experimentemos também noutras dimensões da vida o que desejamos ser com Ele

sexta-feira

É “di grátis”!


Texto do Blog: http://www.stories.org.br/querocontar

(Quero contar é um diário de uma criança especial, segundo a visão de seu Pai adotivo, que relata o que acha que seu filho gostaria de escrever…)

É “di grátis”!

Meu pai conversou com uma pessoa que não conseguia entender a razão de me adotar. Explico. Na religião dela, as pessoas fazem um monte de coisas — fazem caridade, preces, ajudam os doentes, distribuem mantimentos, reencarnam — para evoluir espiritualmente. Quando meu pai disse que nada disso adianta, deu um “tilt” na cabeça da pessoa.
Para ela, se o lugar no céu — ou seja lá como você diz isso — não é ganho por nossos esforços, por que adotar o Pedrão aqui se meu pai não ganha nada com isso? Ele não conseguiu explicar, ou pelo menos ela não conseguiu entender, então vamos ver se eu consigo. Você está vendo a foto acima? E viu a foto da última vez? Aquela da mensagem “Éramos mais do que seis”.Pois é, a foto de outro dia é como passei a viver depois que fui adotado. A foto acima não é de minha família, mas é de uma muito parecida com o lugar de onde eu vim. Eu vivia assim e passei a viver de outro jeito. O que eu fiz para merecer isso? Nadinha. Neca treca de pitibiriba. Veio tudo de graça no pacote.Alguém me amou e quis fazer isso, entendeu? Alguém olhou para mim, viu minha miséria, me amou e me deu uma vida melhor.

Assim é com o evangelho. Deus nos amou e deu o Seu Filho, Jesus, para morrer numa cruz para nos salvar. Simples assim. Não fizemos nada para merecer. Ele amou porque quis e Ele quis nos dar a vida eterna porque quis. É só se deixar levar por esse amor.Foi o que fiz. Me deixei levar. A única condição para ser adotado foi meu estado miserável. A única condição para alguém ser adotado por Deus e se tornar Seu filho é estar em um estado miserável — se reconhecer pecador. É Deus quem faz tudo. Por isso se chama “graça” e não “troca”, “escambo”, “barganha”, “pagamento” como muitas religiões por aí querem fazer crer. Graça é favor imerecido.”O QUE?!!!” Dirão os religiosos indignados, e foi o que aquela pessoa disse ao meu pai. “Quer dizer que todos os meus esforços, minha caridade, minhas esmolas… Nada disso vai contar?!!” Exatamente. Nada disso vai contar, porque Deus não pediu seus esforços.
Ele só precisava de Seu Filho Jesus morrendo na cruz para salvar você. O resto é religião de Caim.”Religião de Caim?!” Sim, lembra que ele quis oferecer a Deus o fruto de seu trabalho — deve ter sido frutas, cereais, verduras que ele plantou e colheu com muito esforço — e Deus não gostou? Não gostou mesmo, de jeito nenhum! Mas gostou da oferta de Abel. Qual foi? Um animal — talvez um cordeiro — morto. Nada que tenha se esforçado para conseguir, uma criação de Deus. Um cordeiro morto lembra você de alguma coisa? Pois é, era só isso que podia agradar a Deus. O Cordeiro de Deus.E as nossas boas obras? Deus nos salva e depois ficamos por aí de mãos abanando? Calma, meu! Deus nos salva para um propósito: adorá-Lo. E começamos a fazer isso a partir do momento em que nos vemos salvos, libertos. Aí servimos a Ele não para receber algo, mas porque já recebemos. Ufa! Já escrevi demais e vou deixar para contar a história que quero contar numa próxima ocasião. Não perca, ok? Ela vai deixar claro onde entram as boas obras na vida do cristão.
Por amor

Bom, eu prometi que iria contar uma historinha hoje, mas você não vai entender nada se não tiver feito a lição de casa. Qual? Ler a mensagem anterior que pedirá para você ler a que vem antes dela. E principalmente comparar as fotos.

Então, como eu estava explicando, segundo a religião daquela pessoa com quem meu pai conversou, é preciso levar uma vida de esforços tentando subir uma escada cujos degraus são separados demais. Degraus que perna alguma jamais consegue alcançar. E ainda querem que alguém suba, veja só!

No cristianismo bíblico, é Cristo quem me pega lá em baixo e me leva direto para o céu, de um só passe. É cesta, sem repicar a bola no chão. Num momento você é pecador perdido; no momento seguinte à conversão você é pecador salvo. Vapt! Vupt! A condição para ser salvo? Estar perdido.

Do jeitinho que aconteceu com minha adoção. Um dia eu estava na miséria esperando a morte em um barraco. No outro, eu estava limpinho, bem alimentado e desfrutando do amor de novos pais e de uma nova família. A condição para ser curado? Estar doente.

Então onde ficam as boas obras, a caridade, essa que é a locomotiva da maioria das religiões para levar o homem a Deus? Não tem lugar algum na salvação do homem. Nada do que eu faça pode me salvar, porque a única coisa que precisava ser feita foi Ele quem fez.

E o que é mais belo do cristianismo é que, uma vez nascido de novo pela fé em Cristo, não há qualquer necessidade ou intenção de se fazer o bem visando eliminar o próprio pecado ou carma, ou reduzir o número de supostas reencarnações. Por ter sido alvo um favor imerecido, o cristão convertido faz as coisas, não para receber algo em troca (uma barganha para garantir seu futuro eterno), mas porque já recebeu tudo em troca.

Agora vem a historinha que prometi:

Num leilão de escravos colocaram à venda um escravo velho e doente. Para nada servia a não ser morrer para evitar despesas. Porém um rico fazendeiro deu um lance para comprá-lo, pagando um preço altíssimo, que seria suficiente para comprar todos os escravos do leilão.

O escravo comprado aproximou-se de seu novo senhor e ouviu de sua boca: “Pode ir embora, você está livre”. O escravo não entendeu. “E o preço que o senhor pagou?”. O fazendeiro explicou: “Paguei um valor altíssimo para ter certeza de quem ninguém cobriria minha oferta. Desde o momento em que o vi, eu tive pena de você e o amei, desejando que fosse livre. Agora você está livre. Não me deve nada.”

O escravo, em vista dessa libertação gratuita conseguida a tamanho preço, respondeu: “Por causa do que o senhor fez, POR AMOR, vou servi-lo até morrer”.

De maltrapilhos a bemtrapilhos…

(…)Ele leu um livro que gostou muito. Disse que fazia tempo que não lia um assim. É um livro cristão, “O Evangelho Maltrapilho”, de Brennan Manning, um ex-frade e alcoólico em recuperação. Pois é, um fracassado segundo os padrões de alguns. Mas é justamente disso que ele fala, que o céu é um lugar cheio de fracassados.Numa época quando tanta gente quer ser “poderoso” e “poderosa”; quando igrejas se enchem de gente atrás de milagres, dinheiro e poder; quando fiéis são contados em milhões e dízimos carregados em malões; quando fica essa rasgação de seda, de “reverendo” pra cá e “doutor em divindade” pra lá, alguém precisa lembrar que “graça” é favor imerecido dado a quem não tem e não pode nada.

O livro é um banho de kryptonita, aquela pedra verde que drenava os poderes do Super-Homem, no ego e orgulho daqueles que pensam que vão conseguir o favor de Deus porque fez alguma coisa de bom. Pessoas que se esquecem de que o céu vai ficar cheio de pessoas vazias, de “madalenas prostitutas”, “pedros negadores”, “mateus publicanos”, “ladrões da cruz ao lado” e “paulos guarda-objetos de apedrejadores de estêvãos”.

Gente sem a mínima condição, portadores de deficiências espirituais graves demais para conseguirem, sozinhos, chegar lá. Precisam ser levados por alguém, igual a quando me levam pra lá e pra cá porque minhas pernas não sabem andar e, ainda que soubessem, meu cérebro não saberia dizer pra que lado ir. O livro lembra que não são crianças boazinhas que vão para o céu, mas crianças más que serão arrastadas até lá.

Como o filho pródigo, que só voltou porque o estomago não agüentou, ou a mulher adúltera, que só ouviu uma palavra de perdão porque foi arrastada até a presença de Jesus pelos que queriam apedrejá-la, mas não com a primeira pedra. E você, vai querer chegar lá por algo que fez ou vai se deixar arrastar pela graça de Deus? Ser pecador é a única condição exigível para a viagem e no passaporte o carimbo diz “Salvo por Graça”, marcado com tinta-sangue do Cordeiro de Deus.

quinta-feira

A paz que excede


Essa paz que eu sinto
Não vem desse mundo
Não vem de esperanças outrora perdidas
A paz que eu sinto não vem de prazeres
Não vem de alegrias que o mundo me dá
Essa paz que eu sinto
Vem de alguém que tem mais
muito mais que alegria pra oferecer
Vem de um amor tão bonito
Vem de um dar infinito
que é impossível tentar entender...

É paz que invade a minh'alma
É paz que inunda o meu ser
É paz que me faz ser bem livre
preso só ao amor que me fez renascer...

A Paz que execede todo o entendimento...

quarta-feira

Transformando pedras em areia

O que você faz quando é invadido pela culpa ?
Pedras. Lágrimas. Areia. Partindo desses três elementos Jesus soube criar um dos momentos mais incríveis da história humana. Entre as pedras da acusação e a areia do deserto emocional, havia as lágrimas quentes carregadas do desespero de uma mulher.
Um grupo agitado aproximou-se de Jesus trazendo aquela a quem os gritos de "pecadora" dirigiam-se. Acusando-a de adúltera, aquelas pessoas levaram-na até Jesus, na expectativa de que Ele demonstrasse algum tipo de fragilidade ao emitir a Sua opinião. Alguns membros da liderança religiosa estavam ali, curiosos para verem a reação dAquele a quem tantos já chamavam de "Mestre".
Segurando pedras, o grupo esperava ansiosamente o momento em que através da morte daquela mulher pudesse participar de algo próximo do sentimento de perdão. Cada pedra que seria atirada carregava o peso de algum erro oculto, escondido. Aquelas pessoas queriam sentir-se livres da culpa. A solução encontrada por eles foi transferir todas as suas misérias para aquela mulher. Naquele momento, ela representava tudo de pior que o ser humano pode carregar dentro de si.
Jesus demonstrava conhecer a mente humana como ninguém jamais conheceu. Ele sabia que o assassinato daquela mulher não traria conforto algum àquelas pessoas. Sabia que apenas quando aprendessem a perdoar e a aceitar o perdão estariam livres para experimentar a felicidade.
A culpa petrifica a emoção e a sensibilidade humanas. Não sabendo como lidar com suas próprias angústias, aquelas pessoas perderam a capacidade de reconhecer no outro alguém digno de compaixão e de amor. Pelo contrário, o outro, no caso, a mulher adúltera, era tudo menos um ser humano merecedor de compaixão.
Como que um protesto inconsciente às pedras erguidas em sinal de acusação, pingavam as lágrimas daquela mulher, servindo como lembranças da fragilidade humana. Abaixando-se e colocando-se no mesmo nível da acusada, Jesus começou a escrever na areia. Com o ato surpreendente de se colocar à altura do pecador, Cristo mostrava a sua intensa compaixão pelo ser humano. E com sua escrita na areia mostrava o maravilhoso perdão que veio oferecer. Diante de Deus, nossos erros e culpas são como a areia fina carregada pelo vento da misericórdia divina.
Dirigindo-se ao agitado grupo de acusadores, Jesus sugeriu que aquele que não carregasse nenhum defeito ou culpa atirasse a primeira pedra. As palavras do Mestre certamente chocaram aquelas pessoas. Em instantes, todos haviam ido embora, deixando Jesus e a mulher adúltera sozinhos. As pedras foram largadas sobre o chão de areia, mostrando o contraste que existe entre a culpa que se instala no coração humano e o poder de Deus de destruir a culpa e varrê-la de nós como areia fina.
Jesus, repleto do Amor divino, não via os erros e defeitos do ser humano como objetos de condenação, e sim como oportunidades maravilhosas para a renovação interior. Mais uma vez Cristo mostrava importar-se mais com as pessoas que podemos nos tornar do que com quem somos agora.
Só Deus, o criador de todas as coisas, conhece o potencial de Sua criação. E conhecendo-nos perfeitamente, Ele está disposto a oferecer Seu Amor restaurador para que através dele sejamos novas criaturas.
Naquele dia, Jesus mostrou àqueles homens que as pedras que tinham em suas mãos nada mais eram do que representações físicas de seus próprios erros e culpas escondidos. Naquele dia, Cristo mostrou àquela mulher que suas lágrimas de arrependimento eram vistas por Deus e que para Ele os seus erros eram como areia fina facilmente levada embora pelo vento.
Quando o peso da culpa preenche a sua vida, o que você faz? Atira pedras ou permite que o perdão de Deus transforme-as em areia e carregue-as para longe?
Kelson Fernandes

Felicidade

A maior busca do ser humano é da felicidade. Pascal dizia que até os suicidas se enforcam querendo ser felizes. Ninguém almeja a felicidade para ter dinheiro, mas ao contrário, corremos atrás do dinheiro para sermos felizes. Portanto, o fim último que elegemos para nossa existência e a felicidade. [...]Repito: a pregação, “se converta e você será feliz” é falsa. As razões são diversas: primeiro, conversão não tem nada a ver com Deus resolvendo os nossos problemas instantaneamente. Converter-se é submeter nossa vontade à Sua soberana vontade.
Segundo, na conversão resolve-se o impasse relacional da criação. Deus decidiu nos criar, livres. Deus é trino e, portanto, relacional. Ele vive eternamente em uma comunidade tão única, que podemos afirmar que o Deus trino do cristianismo é só um. Pode-se dizer que nossa liberdade foi o preço que Deus se dispôs a pagar, por sua soberana decisão, para que pudéssemos amar. Converter-se significa, portanto, que houve uma resposta humana para o toque divino da Graça que convida para esse relacionamento. O convertido é quem diz sim ao convite de Deus.
Daí se inicia um relacionamento amoroso semelhante aos dos pais e filhos, amigos, noivos ou pastor e ovelhas. Conversão é aceitar que a vontade humana se alinhe à vontade de Deus, sempre com o propósito relacional de intimidade.
Depois que nossa vontade estiver sujeita à vontade dEle, começa uma caminhada ou um processo; Deus nos ensinará como transformar nossa história de perdição em vida plena.
Colocado de uma maneira bem coloquial, seria como se Deus afirmasse: “Bem, agora que você está comigo, deixe que eu lhe ensine como ser feliz.
A diferença fundamental entre o cristão e o não cristão é que um se submeteu à vontade de Deus e agora dispõe da sabedoria divina para viabilizar a vida.
Entretanto, alguns podem ser cristãos, terem essa sabedoria à sua disposição e não saberem como utilizá-la. Seria como uma pessoa que passa sua existência sobre uma jazida de ouro, mas ignorante de sua realidade, nunca garimpa o tesouro que é seu.Conheço um rapaz que herdou uma biblioteca de seu pai, mas nunca leu nenhum daqueles livros. Ele era filho de um dos homens mais cultos, porém um playboy; assim, jamais tocou em qualquer um tomo das estantes.
[...] Jesus Cristo foi cristalino no seu ensino: quem almejar ser feliz, precisa de três atitudes corretas: a) para consigo mesmo – sendo pobre de espírito, admitindo suas lágrimas, na humildade, e mantendo seu compromisso com a justiça; b) para com Deus – sendo misericordioso como Deus é, mantendo o coração puro, e sendo pacificador; c) para com o mundo que rodeia – estando disposto a sofrer pelo que crês, mantendo a integridade emocional mesmo sendo perseguido.
Vale insistir, mesmo com o prejuízo de parecer redundante: Jesus inicia seu ensino oferecendo algumas pistas de que a felicidade não acontece por acaso. Portanto, o caráter cristão precisará conter três ingredientes para produzir felicidade. O primeiro, diz respeito a essência do ser – humildade de Espírito, a habilidade de chorar, a mansidão, a fome e sede de justiça. O segundo, as expressões do ser – misericórdia, pureza de coração, promoção da paz. O terceiro, os compromissos do ser diante da adversidade, da perseguição e da injúria.
Portanto, a expressão “Bem-aventurados” – que significa 'Felizes' – não é somente indicativa ou descritiva do verdadeiro cristão, mas imperativa.
O início do sermão do Monte não se constitui numa simples promessa, mas numa convocação e exortação. Jesus aponta o caminho para aqueles que quiserem realmente experimentar a felicidade. Seu ensino, em outras palavras, exorta as pessoas a se lembrarem sempre que, quanto mais próximas estiverem dos princípios expostos por ele, mais perto estarão de desfrutarem uma vida plena.
Jesus ensinou que felicidade não é fruto de só uma experiência, ela é resultado de uma jornada – um estilo de vida que se adota.
Vida abundante não se acha, ela é construída. Os bem-aventurados são chamados de 'felizes' não porque passaram por uma experiência mística ou esotérica, mas porque viveram de tal maneira que a felicidade fluiu. Os valores do Reino de Deus produziram neles uma satisfação real.
Significa que felicidade não vem de fora para dentro, mas ela flui de dentro para fora. Um anjo não tocará ninguém para que seja feliz. Se houver uma intervenção angelical, ela servirá para revelar ou dotar a pessoa de forças para que pratiquem o necessário para encontrarem alegria eterna.
Pimentinha foi um personagem muito conhecido nas seções cômicas dos jornais. Certa vez, mostraram ele de joelhos na beira da cama fazendo uma prece: “Deus, por favor, transfira as vitaminas da cenoura para o sorvete”. Rimos de sua ingenuidade infantil. Porém, muitas vezes, oramos da mesma maneira. Queremos que Deus, por alguma mágica, transfira a felicidade celestial para nossas vidas.
Quando uma pessoa experimenta o poder da Graça, ela não sai de um estado de tristeza para um de alegria, no estalar dos dedos; apenas abandona a estrada que conduz à tristeza para outra que leva à felicidade. Contudo, alguns valores precisarão ser incorporados ao seu novo estilo de vida.
O sermão do Monte foi uma espécie de cartilha em que Jesus Cristo garantiu aos seus que, se buscassem o Reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar, todos ingredientes que geram felicidade seriam acrescentados. Para Jesus, felicidade não é uma estação onde estacionamos, mas uma maneira de viajar.
A grande frustração que encontro em muitos cristãos é que esperam uma oração especial, uma profecia bombástica, uma visão sobrenatural, um arrebatamento espetacular para, de repente, entrarem em um estado perene de felicidade.
Os caminhos que levam a essa vida, passam por ações que são constantemente rejeitadas. Quem deseja preferir os outros, esvaziar-se da arrogância de enxergar-se como um semi-deus ou ser menos egocêntrico? A essência do cristianismo autêntico começa quando seus seguidores buscam se esvaziar dos próprios métodos para passarem a considerar os de Deus. Por isso: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.
Cristo foi direto: “aprenda a chorar, – a manter a alma terna, sensível, a não se auto justificar – Deus lhe dará o poder de se sentir frágil, dependente dele. Por isso: ”Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”.
Ele indica o caminho de viver com satisfação real: “ queira ser justo, ame o que é certo”. Em todos os atos, faça sempre a pergunta: “Será que é certo? Está direito? Isso é justo?”. Quem ama a justiça e tem desejo enorme de vê-la sendo praticada, será feliz. Por isso: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”.
Suas palavras ainda ecoam: “queira ser misericordioso para com os fracos; seja paciente com os que não conseguem alcançar seu padrão; seja compreensivo com os que se atrasam; com os que fracassam; com os que tropeçam em seus próprios erros”. Quem tem essa atitude para com os derrotados será feliz, porque no dia que precisar de compreensão para seus próprios erros, achará.
Ele convoca seus seguidores a serem coerentes na interioridade: “busque ser limpo de coração, e não permita que haja sombras, caminhos dobres, incoerências, hipocrisia, falsidade ou dolo”. Para Jesus, quem vive uma vida íntegra, será feliz. Sua declaração foi ousada: “os puros experimentarão a maior de todas as felicidades, eles verão a Deus”.
Jesus incentivou a concórdia e ordenou que se promovesse a paz: “não seja agente de cizânias, jamais catalise ódios, não suscite a vingança e não espalhe dissensão. Reconcilie os que se odeiam, reuna os diferentes, promova o amor e você será feliz”. Daí o texto: “os pacificadores serão chamados filhos de Deus”.
Ele aconselha que seus seguidores sejam pessoas de idéias nítidas, convicções sólidas, pontos de vista verdadeiros: “se essa postura trouxer o ódio alheio e se sua fé não for popular, continue sendo verdadeiro, a história premiou todos os que agiram assim. Os claudicantes, os pusilânimes, os covardes se perderam. Ninguém lembra o perseguidor, apenas os perseguidos são lembrados”. O texto diz: “bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e mentindo disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”.
No verdadeiro cristianismo a felicidade não é circunstancial, ela depende dos conteúdos do caráter. Jesus ensinou aos seus discípulos que a pergunta essencial não é: “Isso me fará feliz?”, mas, “isso está certo”?
Todos nutrimos o conceito errôneo de que felicidade depende de circunstâncias. Ao contrário de Jesus Cristo, raramente fazemos uma correlação entre a felicidade e o caráter. Muitos vivem miseravelmente prometendo a si mesmos: “serei feliz no dia que mudar de casa, comprar um barco, terminar a faculdade, tiver um filho, os filhos se casarem, mudar de mulher, viver em Minas Gerais, construir uma casa em Porto de Galinhas ou viver em Miami”.
Devido a essa visão de que lugares, pessoas e oportunidades, produzem felicidade, não priorizamos a ética, a integridade e nem um compromisso com a justiça.
Infelizmente acabamos acreditando que a disciplina de uma vida íntegra não tem nada a ver com felicidade e sim com coleiras religiosas ou morais.
Durante todo o sermão da Montanha, Jesus não poupou seus discípulos. Ele ensinou alguns princípios fortíssimos. Há determinados trechos que a gente lê e diz: “Isso é muito difícil”!. Foi por esse motivo que ele iniciou afirmando: “Eu vou ensinar algumas coisas para vocês aparentemente muito difíceis, mas acreditem, os que praticarem serão bem-aventurados – ou felizes”.
O sermão inicial de Cristo ergueu-se sobre uma premissa bíblica: o que o homem ou a mulher plantar isso, certamente colherá. Não importa se a religião está sendo cerimonialmente cumprida: quem plantar vento, colherá tempestade; quem plantar ódio, colherá violência; quem plantar amor, colherá amizade; quem plantar vingança, colherá amargura; quem plantar fidelidade, colherá compromisso; quem plantar mentira, colherá traição; quem plantar verdade, colherá integridade.
O sermão da Montanha fornece princípios para os que buscam essa vida verdadeira e plena prometida por Jesus. O melhor é que ele próprio se propõe ajudar seus discípulos em cada passo do caminho.
Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim
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